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terça-feira, julho 25, 2006

O Crescimento de Roma

Este é o 2º artigo desta série. O primeiro é:

01 - Paulo, uma Introdução

Nestes dias de superpotências mundiais, não é fácil entender como uma única cidade pôde formar uma base adequada de poder, para estender sua autoridade sobre uma grande área e fundar um imenso império. Houve vários impérios antes, no vale do Eufrates e do Tigre, dos quais o mais bem conhecido foi Babilônia, que, no século dezoito a.C., atingiu este grau de poder sob o grande Hamurabi e, mais tarde, no sexto século a.C., dominou não somente seus vizinhos na Mesopotâmia, mas também as terras a oeste, até as praias do Mediterrâneo e a fronteira com o Egito. O próprio Mediterrâneo testemunhou a ascensão e queda de uma sucessão de cidades imperiais. No quinto século a.C., a cidade de Atenas imperou não só sobre o Mar Egeu, mas também sobre uma grande área do Mediterrâneo ocidental, incluindo a Sicília. Cartago, uma colônia da cidade-estado fenícia Tiro, controlou durante três séculos o Mediterrâneo ocidental, até que sua rival, Roma, obrigou-a a renunciar a todas as suas possessões no além-mar, depois de derrotá-la na Segunda Guerra Púnica, no fim do terceiro século a.C. Já na era cristã, acidade de Veneza conseguiu “ter o Oriente deslumbrante em suas mãos”, desde o tempo das Cruzadas até o século dezessete.

No entanto, de todas estas cidades que dominaram as terras mediterrâneas, nenhuma exerceu uma influência tão permanente sobre elas, e sobre outras bem distantes do Mediterrâneo, do que Roma. Sua ascensão rápida e uma posição de domínio causou uma impressão profunda sobre as mentes dos homens da Antigüidade. Um político grego de nome Políbio, que foi levado a Roma como refém em 167 a.C. e teve a boa sorte de conquistar a amizade de Cípio Emiliano, o principal general romano de sua época, escreveu uma obra de história (ainda de valor excepcional, no que sobreviveu) a fim de refazer os passos pelos quais a cidade de Roma, num período de cinqüenta e três anos (221-168 a.C.), se tornou senhora do mundo mediterrâneo – feito até hoje não igualado na história. Menos exato, mas informativo por causa da sua reflexão brilhante sobre a imagem idealizada de Roma corrente no Oriente Próximo por volta de 100 a.C., é o quadro pintado em 1 Macabeus 8. 1-16, onde nos é contado como Judas Macabeus, em busca de todo apoio possível em sua luta contra os selêucidas, enviou uma embaixada a Roma:

Judas tomara conhecimento da fama dos romanos. Dizia-se que eram poderosos e valentes, que se compraziam em todos os que se aliassem a eles, e concediam sua amizade a quantos a eles se dirigisse. Falaram-lhe também de suas guerras e das valorosas proezas que tinham realizado entre os gauleses, e como os tinham dominado e tornado seus tributários. E falaram também do que haviam feito na Espanha, para se apoderarem das minas de prata e de ouro que lá se encontram, e como se tornaram senhores de todo esse lugar, pela sua prudência e perseverança, embora o lugar fosse muito distante deles. Ouviu falar também dos reis que tinham vindo contra eles, das extremidades da terra; como eles os destroçaram e lhes infligiram graves derrotas, enquanto os outros lhes pagam um tributo anual. Enfim tinham desbaratado na guerra a Filipe e a Perseu, rei dos ceteus [macedônios], bem como a outros que se haviam rebelado, e os sujeitaram a si. Também Antíoco , o Grande, rei da Ásia, que marchou contra eles, para enfrentá-los com cento e vinte elefantes, cavalaria, carros de guerra e um enorme exército, foi por eles esmagado. Capturado vivo, obrigaram-no a pagar, ele e seus sucessores, um pesado tributo, além da entrega de reféns e da cessão de territórios: a região da Lícia, a Mísia e a Lídia, de entre as mais belas de suas províncias, arrebataram-nas dele e as entregaram ao rei [de Pérgamo] Eumenes. Tendo os da Grécia conjurado para ir exterminá-los, os romanos , sabendo do plano, enviaram contra eles um só general para os debelar: caiu um grande número de feridos, levaram cativas suas mulheres e seus filhos, saquearam seus bens, dominaram seu país, destruíram suas fortalezas e reduziram-nos à escravidão, até o dia de hoje. Quanto aos outros reinos e à ilhas que lhes tinham resistido, os romanos os destroçaram e submeteram. Com os seus amigos, porém, e com os que se fiavam no seu apoio, eles mantiveram sua amizade.

Estenderam seu poder sobre os reis, quer de perto quer de longe, de modo que todos os que ouviam pronunciar o seu nome ficavam atemorizados. Exercem a realeza aqueles a quem eles querem ajudar a exercê-la; por outro lado, depõem aqueles a quem querem depor: a tais alturas chega o seu poder! Apesar de tudo, nenhum deles cingiu o diadema, nem revestiu a púrpura para se engrandecer com ela; mas criaram para si um conselho, onde cada dia deliberam trezentos e vinte homens, constantemente consultando-se sobre a multidão e sobre como dirigi-la ordenadamente. Confiam por um ano o poder sobre si e o governo de todos os seus domínios a um só homem, ao qual unicamente todos obedecem, sem haver inveja ou rivalidade entre eles
”.


Este relato tem muitas inexatidões nos detalhes, das quais a mais surpreendente é a afirmação, no fim, de que eles confiam o poder supremo a um homem a cada ano; na verdade, para evitar a concentração de poder nas mãos de um só homem, eles elegiam dois magistrados supremos (cônsules) em conjunto, cada um deles com direito de veto sobre os procedimentos dos outros. Mesmo assim, ele nos dá uma boa idéia do que se pensava dos romanos no oeste da Ásia naquela época; a experiência da sua opressão, quando estavam mais próximos, deu lugar a um quadro muito menos favorável depois de duas ou três décadas.


De um Povoado sobre um Monte a Império Mundial

Roma começou como um grupo de povoados agrícolas e pastoris na planície latina, na margem esquerda do Tibre. Num estágio inicial da sua história, ela caiu sob controle etrusco, mas depois de uma ou duas gerações conseguiu sacudir este jugo. Os etruscos se retiraram para a margem direita do Tibre. A carreira de Roma como conquistadora do mundo começou, quando atravessou o Tibre para sitiar e atacar a cidade etrusca de Veii (c. 400 a.C.). Dali em diante, Roma se tornou primeiro senhora do Lácio e depois da Itália. A intervenção em uma briga interna na Sicília em 264 a.C. a colocou em confronto com os cartagineses, que tinham interesses comerciais substanciais na Sicília. O resultado foram as duas guerras púnicas (264-241 e 218-202 a.C.), sendo que na segunda, Roma chegou à beira de ser aniquilada; no entanto, depois da derrota decisiva de Aníbal em Zama, no norte da África, ela emergiu como senhora inquestionável do Mediterrâneo ocidental.

Roma não teve alívio, depois da sua luta exaustiva contra Aníbal e suas forças: a Segunda Guerra Púnica mal tinha acabado, quando a cidade se viu engajada em uma guerra com a Macedônia, um dos estados que resultara da herança do império de Alexandre. Em 195 a.C., Roma restituiu às cidades-estado da Grécia a liberdade que tinham perdido para Filipe, o pai de Alexandre, quase um século e meio antes. Esta liberdade restaurada, na verdade, era muito limitada, já que Roma constituiu a si mesma protetora das cidades libertadas. Nenhum outro poder podia intervir impunemente em seus assuntos: quando o Reino Selêucida (outro dos estados que sucedera ao império de Alexandre) tentou fazer isto em 192 a.C., não foi apenas repelido, mas invadido pelos legionários romanos, e viu-se aleijado e empobrecido de modo irrecuperável. Roma não perdeu nenhuma oportunidade para encorajar a oposição aos interesses selêucidas, seja no Egito dos ptolomeus (mais um dos estados sucessores), seja entre os insurretos judeus, liderados por Judas Macabeu e seus irmãos (de 168 a.C. em diante).

Estes movimentos levaram ao envolvimento cada vez maior de Roma no Oriente Próximo. Em 133 a.C. o último rei de Pérgamo, um aliado de Roma, morreu e legou seu território (a parte oeste da Ásia Menor) ao senado e povo romanos. O legado foi aceito e o território se tornou a província romana da Ásia. O domínio romano não era muito popular e, em 88 a.C., uma insurreição anti-romana foi fomentada na província por Mitridates VI, rei do Ponto (na costa do mar Negro da Ásia Menor), que também tinha pretensões imperiais naquela região. A conseqüência foi uma guerra entre Roma e Ponto, que se arrastou por um quarto de século. Quando as armas romanas triunfaram, no fim deste período, sob o general Pompeu, este se viu diante da tarefa de reconstruir toda a ordem política no oeste da Ásia. Ele ocupou a Judéia em 63 a.C., depois de dar à Síria a condição de província romana no ano anterior.

Durante trinta ou mais anos depois da pacificação por Pompeu, o mundo romano foi dilacerado por rivais aspirantes ao poder supremo, até que, na vitória naval de Actium (31 a.C.), que significou a queda de Cleópatra, a última soberana do Egito dos ptolomeus, com seu aliado romano Antônio, deixou Otaviano, filho adotivo e herdeiro político de Júlio César, como senhor do mundo romano. Um estadista rematado, Otaviano, que em 27 a.C. adotou o título de Augusto, preservou a moldura republicana do Estado romano, mas concentrou o poder real em suas mãos. Em Roma ele se contentava com o título princeps, primeiro cidadão da república; nas províncias orientais, porém, ele e seus sucessores foram reconhecidos pelo que eram de fato: herdeiros do domínio de Alexandre e das dinastias entre as quais o império deste fora dividido – rei dos reis, como os grandes potentados orientais da Antigüidade.

Sob o controle de Roma, portanto – primeiro da Roma original e depois, do quarto século em diante, da Nova Roma estabelecida em Constantinopla – os povos do Oriente Próximo continuaram a viver até a conquista árabe do sétimo século.

Este artigo está no tópico – Paulo, o Apóstolo

O próximo artigo desta série é OS JUDEUS SOB DOMÍNIO ESTRANGEIRO a ser postado em breve.