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terça-feira, julho 25, 2006

"Quando veio a Plenitude do Tempo"

PAULO - SUA VIDA, SUAS CARTAS E SUA TEOLOGIA


“Quando veio a Plenitude do Tempo”

1 – A Libertação esperada

A chegada dos romanos à Judéia e a queda da dinastia nativa dos asmoneus obrigou os judeus religiosos a repensar sua situação e tentar interpretá-la em termos do propósito divino. Alguns que apoiavam os asmoneus tinham estado satisfeitos com o regime deles, pela maior parte do tempo que durou. Sob João Hircano (134-104 a.C.) muitos dos seus súditos, crendo que viam nele uma combinação rara dos três ofícios de profeta, sacerdote e rei, se dispunham a pensar que, com ele, a era messiânica raiara. É verdade que os grandes profetas de Israel tinham previsto a corporificação da esperança nacional em um príncipe da casa de Davi, mas, nos primeiros anos do governo asmoneu, havia poucos indícios de que a casa de Davi tinha algum papel a exercer na vida de Israel, enquanto a liberdade do jugo gentio fora conseguida sob a liderança de uma dinastia sacerdotal. Não seria a vontade de Deus que o Messias ou “ungido” esperado no tempo do fim fosse um sacerdote da tribo de Levi, em vez de um rei da tribo de Judá?

Todavia, a ambição militar e o barbarismo de Alexandre Janeu (103-176 a.C.) afastaram a melhor parte da nação da causa dos asmoneus e, quando, após a morte de sua viúva a sucessora Salomé Alexandra em 67 a.C., irromperam lutas intestinas entre seus filhos Hircano e Aristóbulo , até os que apoiavam a causa dos asmoneus se dividira. Foi essa guerra civil que deu aos romanos a oportunidade de ocupar a Judéia.

Os grupos religiosos da Judéia, que tinham sofrido sob os asmoneus, viram no fato de eles terem sido destronados pelos romanos uma punição divina pela injustiça deles em geral, e pela sua usurpação da dignidade que não lhes cabia, em particular. A comunidade de Qumran desaprovava que eles tinham se apossado do sumo sacerdócio, que pertencia exclusivamente à família de Zadoque, e via os romanos como executores do castigo divino sobre eles, por essa ofensa; outros grupos devotos, ao que parece, com afinidade com os fariseus, reconheciam que eles estavam sendo punidos por “ter devastado o trono de Davi”. Este último grupo nos deixou como expressão das suas aspirações a coleção de dezoito poemas convencionalmente chamados de Salmos de Salomão. Esses poemas mostram claramente – o que a literatura de Qumran confirma até certo grau – que a esperança depositada na casa de Davi não fora deixada morrer completamente em Israel, e, com colapso da dinastia dos asmoneus e a conseqüente dissipação de toda esperança de um sacerdócio messiânico ligado a ela, a esperança davídica não tinha mais esse rival com que contender.

Os autores dos Salmos de Salomão, como os homens de Qumran, entendiam a ocupação romana como punição de Deus para os asmoneus, mas eles não tinham ilusões em relação aos romanos e não ficaram surpresos, ao vê-los mais opressivos e vorazes do que os asmoneus em seus piores momentos. A insistência sacrílega de Pompeu no santo dos santos, quando tomou de assalto a área fortificada do templo em 63 a.C., foi considerada especialmente chocante e, quando ele foi assassinado no Egito, quinze anos mais tarde, sentiu-se que o castigo merecido finalmente o tinha alcançado. Os romanos,porém, eram estrangeiros, e haveriam de dominar a terra santa somente pelo tempo que Deus permitisse. O dia de eles serem expulsos viria – e por ação divina. Havia opiniões variadas sobre a identidade do agente ou agentes divinos da sua expulsão, mas o grupo maior esperava que o Messias da linhagem de Davi surgisse em breve com esse propósito. Essa expectativa encontra sua expressão ardente no décimo sétimo dos Salmos de Salomão, também pode ser vista em alguns cânticos da narrativa da infância em Lucas. Por exemplo, quando Gabriel visita Maria para anunciar o nascimento do seu filho (Lc 1.32s), ele diz:

Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai;
Ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó,
E o seu reinado não terá fim.

De modo similar, Zacarias (o pai de João Batista) celebra a libertação futura em seu hino de louvor (Lc 1. 68ss).

Bendito seja o Senhor, Deus de Israel,
Porque visitou e redimiu o seu povo,
E nos suscitou plena e poderosa salvação
Na casa de Davi, seu servo...


Para Maria, o cumprimento dessa promessa significa a dispersão dos que são orgulhosos na imaginação do coração, remoção dos poderosos do trono e a “exaltação dos humildes” (Lc 1.51s); para Zacarias significa também “libertação dos nossos inimigos e das mãos dos que nos odeiam” (Lc 1.71).

Quando, em 40 a.C., os romanos decidiram governar a Judéia por intermédio de um rei judeu, teria exigido uma excepcional força mental para identificar traços messiânicos em Herodes. Ele pode ter tido pretensões messiânicas e, provavelmente, foi incentivado nisso por alguns que o apoiavam, mas a atitude judaica geral em relação a ele era hostil. Ele figura em uma obra apocalíptica, escrita vinte ou trinta anos após a sua morte, sob o título Ascensão de Moisés (porque seu conteúdo traz a recomendação final de Moisés a Josué e sua ascensão ao céu), como um “rei insolente” – possivelmente em cumprimento da figura do rei de Daniel 11.26, que “fará segundo a sua vontade” – varrendo do mapa os remanescentes dos asmoneus e não poupando nem velhos nem jovens em sua fúria maligna.


2 – O libertador Esperado

Perto do fim do reinado de Herodes, nasceu Jesus – aclamado por seus primeiros seguidores como o esperado redentor de Israel. Apesar de os cânticos natalinos de Lucas o anunciarem como o prometido príncipe da casa de Davi, e a mesma posição lhe é atribuída na pregação cristã dos primeiros dias, ele não parece ter feito pessoalmente essa reivindicação. Ele não repudiou a designação “filho de Davi”, quando outros o chamavam assim, mas sua única referência à crença comum de que o Messias seria o filho de Davi, apõe-lhe um ponto de interrogação. A descendência davídica não faz parte da descrição de João Batista daquele que viria para batizar com o Espírito. Paulo, por sua vez, cita parte de uma formulação confessional que falava de Jesus como “da descendência de Davi segundo a carne” (Rm 1.3), mas em seu próprio entendimento e exposição da importância de Jesus, a descendência davídica praticamente não aparece.

Em que sentido, então, Jesus foi reconhecido como o redentor de Israel? Quando, com pouco mais de trinta anos, ele emergiu da obscuridade do seu lar em Nazaré e começou seu ministério público, o peso da sua pregação estava em que o reino de Deus estava chegando – que já estava presente, em certa medida, em suas obras de misericórdia e poder. Quando seus ouvintes o ouviam falar do reino de Deus , eles naturalmente pensavam na ordem divina que, segundo as visões no livro de Daniel, substituiria a sucessão de impérios mundiais pagãos e em que o governo seria exercido pelos “santos do Altíssimo” (Dn 7.18.27).

Havia em Israel, no primeiro século d.C., outros que pensavam segundo essas linhas, e cuja concepção do governo dos santos previa o mal para aqueles que não estivessem incluídos nos “santos”. Eles podem ter se inspirado, por exemplo, nos “santos” do Salmo 149.5-9, com os “altos louvores de Deus” na boca e espadas de dois gumes na mão,

Para exercer vingança entre as nações
E castigo sobre os povos;
Para meter os seus reis em cadeias
E os seus nobres, em grilhões de ferro
.

De acordo com Lucas, quando Jesus repartiu a ceia de páscoa com seus apóstolos, na noite anterior à sua morte, ele deixou claro que eram eles que exerceriam o governo do reino de que falara (Lc 22.28-30):

Vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações. Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio, para que comais e bebais à minha mesa no meu reino; e vos assentareis em tronos para julgar as doze tribos de Israel.

Estes para quem Jesus passou esse papel, porém, tinham aprendido dele como ele deveria ser desempenhado; não dominando sobre os outros mas servindo-os. Ao dizer isso, ele fala do reino como “meu reino”, e isso nos traz à relação estreita em seu ensino entre o reino de Deus e a figura escatológica do “Filho do Homem”.

Na visão de Daniel do novo reino, este é entregue a “um como o Filho do Homem” (um personagem humano distinto dos animais selvagens que representam os impérios pagãos); é na interpretação da visão que aparecem os “santos do Altíssimo”, formando a contrapartida do que era “como o Filho do Homem” na visão em si. Jesus não identificou diretamente os santos do Altíssimo com o Filho do Homem; seus discípulos eram o “pequeno rebanho” a quem o Pai haveria de dar o reino (Lc 12. 32), mas eles formavam o “pequeno rebanho” em virtude da sua conexão com o pastor ou, para mudar a metáfora, com o Filho do Homem. Quando Jesus falou do Filho do Homem, pensava neste “como o Filho do Homem” a quem foi dado “domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem” (Dn 7.13-14). À medida que seu ministério avançava, ficava cada vez mais claro que ele aceitaria a missão do Filho do Homem como algo que ele fora, pessoalmente, chamado para cumprir. Esse era um chamado de alto preço; assim como o reino de Deus tinha de sofrer violência, antes de ser implantado em poder, o Filho do Homem tinha de “sofrer muito e ser aviltado”, para depois ser investido de glória real. Nessa confiança ele foi para a morte: “O Filho do Homem vai, como está escrito a seu respeito” (Mc 14.21). Só que sua investidura de glória real não implicaria uma mudança de caráter: depois, como antes, ele continuaria sendo “servo de todos”, pois é nesse serviço de auto-entrega que a verdadeira glória real consiste.

Até o ponto em que Jesus aceitou o título de Messias, foi nesses termos que o aceitou. Quando foi trazido perante o sumo sacerdote e seus colegas, e perguntado ser era o Messias, ele respondeu que era, já que eles tinham escolhido esse termo; ele mesmo, porém, preferia se identificar como o Filho do Homem, que (apesar de estar ali abandonado e humilhado) seria confirmado por Deus, diante dos olhos deles. E nessa confirmação ficaria evidente que ele era aquele em quem Deus visitara e redimira seu povo.

A pregação de Jesus sobre o reino de Deus não aconteceu no vácuo. A Galiléia, onde ele passou a maior parte da sua vida, era governada por Herodes Antipas, uma criatura de Roma; Judéia e Samaria eram governadas pelo prefeito Pôncio Pilatos, indicado diretamente pelo imperador romano. A administração do templo em Jerusalém estava nas mãos da casa do saduceu Anás; era preciso pagar impostos para a sua manutenção, além dos tributos cobrados por Roma. Os professores do povo expunham a lei religiosa, de acordo com a “tradição dos anciãos”. A mensagem de Jesus foi tão radical que desafiou todas essas autoridades, ao mesmo tempo.

Ele não questionou a ocupação romana como aqueles que tentavam contrapor força a força. Isso teria significado aceitar o conceito de poder dos romanos, restando apenas definir quem ficaria com o poder. Mas quando ele solicitou aos filhos do reino que cultivassem justiça e misericórdia, pobreza mansidão, pureza de coração e paz com as pessoas; quando os ensinou a oferecer a outra face, andar a segunda milha e revidar aos inimigos, fazendo-lhes o bem; quando insistiu em que a vontade de Deus era feita de modo completo, na execução de atos de amor., ele virou as regras aceitas, de pernas para o ar, e colocou uma ameaça mais mortal ao alicerce do poder imperial do que se oferecesse resistência armada.Ao mesmo tempo, ele dava tão pouco valor aos bens materiais que não se incomodou em pagar impostos a César, do mesmo modo como pagar o meio-siclo anual ao templo. No fim, porém, forma os administradores do templo e o prefeito romano no meio deles os responsáveis por sua morte.

Quanto à sua atitude em relação à lei, em alguns aspectos, ela não era diferente da de Hillel. Este dissera que toda a lei não passava de um comentário da regra de ouro negativa, e Jesus disse, praticamente, a mesma coisa, ao formular a regra de modo positivo: “Tudo quanto quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas” (Mt 7.12). Com o mesmo propósito, ele selecionou dos 613 preceitos da lei dois positivos que começavam com a injunção “amarás” – “Amarás o Senhor, teu Deus...” (Dt 6.5) e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv. 19.18) – como o primeiro e segundo mandamentos da lei, dos quais dependiam todos os outros (Mc 12.28-31; cf. Mt 22.35-40).

Até este pondo, muitos rabinos da escola de Hillel devem ter concordado com Jesus. Mas, na sua aplicação desses princípios às questões práticas ele parecia tratar a lei com uma liberdade soberana que teria perturbado qualquer um, dessa escola.

Isso pode ser visto, com especial clareza, em sua atitude para com a lei do sábado. As palavras originais dessa lei instituíam o sábado como um dia de descanso, em que não se podia fazer nenhum trabalho. “Trabalho" não estava definido; podemos presumir que inicialmente estavam em vista as atividades rotineiras da vida agrícola: “Ao sétimo ia, descansarás, quer na aradura, quer na sega” (Êx 34.21). De vez em quando, mesmo na época da lei escrita, foi necessário definir “trabalho" de modo mais específico, até termos, no primeiro século d.C., trinta e nove categorias de trabalho definidas, principalmente (ao que parece) na escola de Hillel, todas proibidas no sábado. A escola de Shammai tinha uma interpretação mais rígida, e sabe-se que a de Qumran era ainda mais rígida. Jesus, porém, não perdeu tempo, definindo trabalho; ele recordou aos seus ouvintes o propósito original da instituição do sábado – promover alívio e bem-estar para homens e mulheres – e insistiu que toda ação (como curar doentes) que contribuía para esse propósito, tinha o sábado como o dia mais apropriado para ser feita.

Jesus estabeleceu o mesmo princípio, quando lhe pediram para pronunciar-se sobre a lei do divórcio. Que coisa “indecente” ou “indecorosa” (Dt. 24.1) na esposa justificava que ele se divorciasse dela? Os seguidores de Hillel adotavam uma interpretação liberal, com uma ampla gama de defeitos, e os de Shammai, uma ainda mais estreita, de falta de castidade antes do casamento. Jesus, porém, voltando para antes de Moisés até a narrativa da criação, argumentou, a partir dos termos da instituição do casamento, que o divórcio não fazia parte da intenção original de Deus. Para a mente dos homens que o ouviam, essa regulamentação era tão restritiva que chegava a ser impraticável: “Disseram-lhe os discípulos: Se essa é a condição do homem, relativamente à sua mulher, não convém casar” (Mt 19.10). A intenção da afirmação de Jesus, porém, era corrigir um desequilíbrio social que prejudicava as mulheres, que tinham poucas oportunidades para tomar a iniciativa ou tentar alguma reação nessa questão; do ponto de vista delas, a posição de Jesus era liberal.

Muitas restrições feitas por Jesus aos escribas e fariseus do seu tempo, provavelmente, eram dirigidas aos membros da escola de Shammai. Eram eles que podiam ser repreendidos, especificamente, por “sobrecarregar os homens com fardos superiores às suas forças”, sem nada fazer para ajudá-los (Lc 11.46). Os seguidores de Hillel, porém,mais abertos, também devem ter ficado freqüentemente desconcertados com ele.

Um traço especialmente surpreendente na conduta de Jesus, aos olhos até dos fariseus liberais, era sua prontidão para andar com pessoas que nem mesmo tentavam respeitar a lei, cuja vida estava em conflito escandaloso com seus princípios básicos. Ele não se aproximava deles como um benfeitor condescendente que cumpria um dever religioso; ele dava a impressão de gostar da companhia delas – na verdade, que a preferia, aceitando convites para comer com elas e, assim, incorrer na reprimenda de ser “um glutão e bebedor de vinho, amigo dos publicanos e pecadores” (Lc 7.34). Quando foi questionado por ofender as pessoas religiosas com essa conduta, Jesus se defendeu, dizendo que eram os doentes e não os sãos que precisavam de médico, e que viera para chamar pecadores. E não só isso mas ele afirmou que o próprio Deus agia assim, distribuindo suas dádivas sem distinção entre bons e maus, e até entre ingratos e egoístas. Em parábola após parábola ele ensinou essa lição, enfatizando que a graça de Deus era para os que não mereciam e não deviam recebê-la, os desprezados e marginalizados, os inseguros e desprivilegiados. Em seu ensino e exemplo, a mensagem de Jesus era de boas notícias para os de fora. Quando João Batista, encarcerado por Herodes Antipas na fortaleza de Maquero na Peréia, enviou mensageiros a Jesus para perguntar se ele era realmente aquele que viria e cuja chegada João anunciara (o ministério de Jesus, era tão diferente do que João descrevera que ele teria), Jesus lhes disse para voltarem e dizerem a João o que tinham visto e ouvido, enquanto estavam com ele, mas especialmente isto: “Aos pobres, anuncia-se-lhes o evangelho” (Lc 7.22).

Nestas palavras, João podia reconhecer os termos de Isaías 61.1, onde um homem não identificado afirma ter sido ungido com o Espírito de Deus, exatamente, com este propósito: “Evangelizar os pobres” (Lc 4.18). Será que João reconheceria que Jesus era aquele de quem o profeta falara? Se sim, não sentiria que Jesus o estava frustrando, por deixar de trazer “o dia da vingança do nosso Deus”.

É bem provável que Jesus tenha identificado esse homem ungido pelo Espírito, de Isaías 61.1, com aquele que Deus apresentou antes no mesmo livro (Is 42.1), com estas palavras:

Eis aqui meu servo, a quem sustenho;
O meu escolhido, em quem a minha alma se compraz;
Pus sobre ele o meu Espírito...


- palavras ecoadas ela voz do céu que Jesus ouviu no seu batismo. Esse servo recebe uma missão tanto com Israel quanto com os gentios, cujo comprimento lhe acarreta perseguição injusta, humilhação e morte, mas, ao aceitar tudo isso obedientemente como vontade de Deus para ele, cumpre o propósito divino, que coincide com seu próprio maior desejo. Esse propósito abrange o perdão de muitos, cujos pecados oi servo toma sobre si. De fato, muito do que Jesus diz sobre o sofrimento predestinado do Filho do Homem, pode ser compreendido melhor, se ele identificou em sua mente o Filho do Homem com o Servo do Senhor de Isaías; à luz do que é dito deste último, pode-se entender muito melhor a declaração do evangelho de que “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10.45). Foi com esse espírito que Jesus aceitou a morte. E a esse espírito Paulo haveria de referir-se mais tarde, quando falou “do sentimento que houve em Cristo Jesus, [que] a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo” (Fp 2.5.7) ou disse que Jesus foi “entregue por causa das nossas transgressões” (Rm 4.25). Antes que o aluno de Gamaliel chegasse a esse entendimento do ministério e morte de Jesus, uma revolução teve de ocorrer em sua vida e pensamento. Mas depois que ela ocorreu, ele podia resumir o significado desses eventos na afirmação de que, “vindo a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho..." (Gl 4.4).


O próximo artigo desta série é O COMEÇO DO “CAMINHO”

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